From: Holly
Oi Flôr
Passei esses três dias na casa da praia arrumando as coisas. Te falei que
mudamos todos os móveis, não? Ficou um ouro, mas quanto trabalho santo Deus!
Danny me ajudou muito, coitado! Dou graças a Deus porque meu marido é uma pessoa muito precisa e perfeccionista no que se refere à integridade das coisas. Tudo na casa deve estar em perfeita condições e ele prevê tudo sem eu ter que lhe dizer. Hoje, Danny é muito dependente de minha opinião. Isso me deixa muito orgulhosa de mim mesma porque consegui mudar muitas coisas negativas do seu caráter sem precisar pedir que o fizesse. Somente com a força das minhas palavras, muitas vezes rebuscadas propositalmente pra fazer o efeito desejado e sempre funcionou. Pede o meu parecer em TUDO. E isso nos uniu muito (apesar de às vezes até me irritar). Tem muitos defeitos ainda, como sei que tenho também aos olhos dele, mas a cada dia estamos conseguindo equilibrar o nosso relacionamento, de uma forma sempre mais madura, talvez seja porque tambem já tivemos cada um as nossas experiências, os nossos erros e acertos e fica bem mais fácil gerenciar novas situações. Tudo somado, somos um casal muito equilibrado e nos descobrimos a cada dia. Graças a Deus. Certo que os altos e baixos existem mas com um pouco de maturidade se pode equilibrar. Ele me perguntou brincando como vai a “sccoreggiona” (peidona) da Samantha?
Bem, o nosso reveillon foi muito bom. Na véspera fomos a um piano bar em Alassio, cantamos e dançamos. Dia seguinte fizemos uma ceia no hotel, comemos e nos embebedamos a vontade, dançamos e festejamos à nossa maneira. Foi simples, mas íntimo.
Realmente, as coisas aí precisam ser modificadas. É uma incoerência tão grande, um absurdo o sistema educacional desse país. Como pode com um salário mínimo de 200 reais, se pagar 600 por uma simples educação elementar, pra não falar em uma pessoa como vc, com quase 20 anos de profissão de nível superior, se submeter a pouco mais de 3 salários mínimos, (e que mínimo!) é um absurdo, é nesses detalhes que se entende o que quer dizer terceiro mundo. Tô acompanhando aquele programa que chamam de "Cadastro da fome", que coisa horrível, gente. Pessoas que passam 3 dias em uma fila, com cadeiras biscoitos e café na mochila pra pegar um ticket pra uma bolsa. É humilhante, mas, se fosse mais organizado, seria já um grande passo pra melhorar a situação dessa gente.
Quanto ao seu moroso.... bem, acho que vc deve se manter firme na sua posição e não se deixar levar tanto pelas emoções. É uma situação muito complicada essa de vocês e no meu íntimo, não vejo nada de alvissareiro nessa relação. Essa falta que vc acha que ele te faz acontece justamente pelo vazio que, como vc diz, te domina mas não necessariamente pela presença ou ausência dessa pessoa que no momento é o único conteúdo que está servindo pra tapar uma brecha afetiva, e o que é mais importante, estou certíssima que vc mesma sabe que não pode haver bom êxito uma situação que contrasta com a sua exigência interior. Vc é bastante inteligente pra tirar essa conclusão e bastante analítica pra entender que não é essa forma de amar que te poderá dar serenidade, mesmo assim alimenta uma ilusão por medo da solidão mesmo sabendo que o preço a pagar por poucos e sofridos momentos de prazer será muito alto e poderão até deixar lesões indeléveis. Se cuide, não coloque a necessidade em oposição aos desejos do coração, a necessidade de ter alguém fortemente ligada a vc não justifica haver desejos que não se possa controlar, se vc crer em si mesma não terá necessidade de uma auto-sabotagem.
Vc deve crer absolutamente que merece algo melhor emocionalmente, e crer não é "achar". Não se limite a esse pequeno círculo ao seu redor pra não se acomodar a uma situação aparentemente sem fronteiras. Existe um horizonte pra vc poder ampliar a vista. Procure ir em ambientes frequentados por pessoas "que contam" e por favor, não tenha medo de ser feliz, se vc tem sex appeal pra oferecer e creia, tem muita gente esperando essa oferta.
Tome fortemente essa decisão e veja se não tenho razão.
Te amo
Holly 13/02/03
Driblando a autosabotagem 3
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