2

quinta-feira, 3 de abril de 2008

A infância de Holly



Recordações pra se lembrar... amanhã!

From: Holly
Tess, cade vc, fia??? e Samantha? Ninguem responde??? Receberam esse e-mail abaixo? Me digam se estão vivas.
Holly
7-12-04

From: Ly
Queridas,
Hoje eu tô percebendo como eu era chata. Era uma cegueira ao trabalho tão intensa.
Hoje eu me pergunto, pra que??? Não consegui nada com isso. Absolutamente nada, tô na mesma merda e perdi algunas finais de semana, algumas horas preciosas da minha vida, só trabalhando, trabalhando, trabalhando e trabalhando. E o resultado?
Sempre abaixo do medíocre.
Quantas vezes reclamava destes e-mails que recebia, quantas vezes deletei sem nem me dar o prazer de abri pra ver o que era. Se não era trabalho, não interessava.
Ai, não sei pq, resolvi abri algumas "mensagens", é verdade que no começo de muita má vontade, mas.... E para minha surpresa tenho rido bastante, outras vezes refletido, outras com uma adimiração pelo que via ou lia. E tem sido muito bacana.
Repararam, talvez não Holly, pois não tem power point, mas principalmente Tess, tem recebido quase todo dia uma mensagem, não é? Fiquei fã.
Então, mais uma mensagem pra vcs.
Holly, Samantha tá fazendo assessoria de um evento e Tess tinha me pedido pra te enviar este e-mail que vc não recebeu, ela disse que não sabe pq, todos os e-mails que ela te passa tá voltando.
Segunda feira, dia 13 vou fazer o botox, tô ansiosa pra chegar segunda, acho que chega terça e segunda não chega. E não sei se é impressão, mas tô olhando no espelho tô me achando mais marcada ainda. Será que quero me justificar? Menina, tô com uns vinco muito acentuados na boca, parecendo Fanny, a bochecha caiu, nossa, tô toda, toda.
Ly 7-12-04

From: Samantha
Oi Holly. Li sua e-mail sobre Brena, sim, e refleti bastante. Tá muito legal e me estimulou a mudar algumas atitudes e comportamento em relação a ela. Mas não é nada fácil. Vc tem razão em tudo que falou. O problema é que minha paciência simplsmente ferve quando sou desafiada por ela, quando bato de frente com a arrogância e a rebeldia dela. Aí, acho que se não arrepiar perco a autoridade. Resultado, vira tudo um inferno. Tem dias minha filha que eu vejo a hora dos vizinhos baterem na porta. Mas enfim... ela ficou, como previsto, na recuperação de Matemática. Foi pra final precisando de 8,5 e, naturalmente, náo alcançou. Ao longo do ano ela só tirou 3, 4 em matemática, só notas baixas. Agora já no finalzinho eu coloquei na banca e ela melhorou um pouquinho. Mas só um pouquinho mesmo, porque estudava com a maior má vontade. Um tremendo saco! resultado, perdeu uma parte das férias e ontem tava se lamentando, dizendo até que preferia ter perdido o ano. Dei-lhe o maior sabão. Disse que ela tava colhendo o que havia plantado o ano todo, indisciplina, preguiça de estudar e falta de interesse. E que a única obrigação na vida dela é studar, do resto cuido eu e que, portanto, não admitia esse resultado medíocre. E que, se no próximo ano ela quiser ter um resultado diferente e sair de férias mais cedo, terá que mudar de postura. Ela náo admite uma crítica. Bate boca o tempo todo e se justifica como pode. É isso. Tô na corrida porque estou assessorando dois eventos essa semana, por isso náo respondi. Ly, o evento de flores tá bombando aqui. A imprensa toda me procurando, várias entrevstas articuladas na TV e cobertura garantida. O negócio flores tá realmente despertando muito interesse. Bjs Samantha 7-12-04

From: Holly
Massa a mensagem, Ly. É isso mesmo, meninas. Eu sempre reflito sobre essas coisas. Fico pensandono meu tempo de infância, qdo não tinha televisão, nem mesmo telefone em casa, me pergunto como conseguíamos sobreviver. Lembro que nas férias, a gente ia pra casa de vovó e nem luz elétrica tinha. A gente jantava às 6, vovó fritava carne de sertão e fazia uma farofa tão gostosa, feita com àgua e cebola (acho), como era gostoso, ainda hoje sinto o cheiro daquela comida, feita em fogao de barro efogo a lenha; ou então era fruta-pão com manteiga e café com leite de vaca mesmo, fresquinho da hora, gente, como a vida era diferente!! De manhã,íamos cada um com seu copo e um pouco de sal dentro pra pegar o leite dopeito da vaca, ainda morno.Sinto ainda hoje, acreditem, o cheiro da roupa de minha avó, aquele cheirode limpeza, misturado com fumaça, como isso me marcou! Depois da janta, nos sentávamos na frente da casa com vovô que contava histórias, na penumbra,somente com a luz da lua, parecia que alí, a lua era perene, não me lembrode uma noite sem lua, qdo não estávamos a ouvir histórias, brincávamos com nossos primos, Landy, Nyce e Wagner, que eram já rapaz e moças e faziam de tudo pra nos divertir. Faziam tranças nas folhas de coqueiro e diziam que eram bonecas eWagner improvisava um teatrinho. Me lembro que eu e Nando, gozamos com a caradele por muitos anos, lembrando de um desses teatrinhos. Hoje pensando, acho uma coisa tão simples, mas na época, como nos divertimos com essa história!Wagner se sentou, chamou todos e falou com entusiasmo: Agora, todos vcs vão assistir um cinema grátis - ele era muito engenhoso, vcs sabem, né? - nesse ínterim, abriu as pernas e a bermuda estava rasgada e "seus objetos" sairam pra fora, gente!!! como nos divertimos! Nando saiu logo com essa: já vimos o cinema grátis, kakakaka, não precisa mais não kakakaka. Olha, foram anos de gozação.Vcs devem se lembrar como eu era crítica e pegava no pé de todo mundo, não? Juntamente com Nando, então, a coisa era negra mesmo, ai daquele que caia nas nossas mãos. Tou contando isso pq o artigo de Ly me transportou àqueles anos memoráveis e pq vcs, Tess e Ly, talvez Samantha tb, não conheceram essa nossa fase, e pra que através dessas histórias os filhos e netos de vcs possam reconstruir um dia, a história das gerações passadas. Hoje sinto muito a falta de um conhecimento sobre as nossas gerações passadas, tudo termina alí, com meus avós, dos quais sabemos quase nada, vcs, pior ainda que não sabem nada nem mesmo sobre eles. A propósito, estou lendo um livro de Erica Jong Me lembrarei amanhã que é a história de 4 gerações de mulheres, a última, conseguiu reconstruir o passado dela através de cartas,diários e gravações, feitas de propósito pelos seus antepassados, pra que as futuras gerações tomassem conhecimento da história da família, achei lindo. Daí, foi que senti a necessidade e o desejo de publicar um livro com nossos e-mails.
Com nossa comunicação, podemos tb deixar em herança pra as futuras gerações, de que maneira viveram os antepassados deles.

Experiências (quase) medievais

Lembro que nós bebíamos água de pote e deveríamos percorrer um caminho estreito e acidentado, descer uma ladeira infinita, cheia de buracos, lá em baixo, tinha a nossa fonte, (ainda hoje sinto ocheiro da água que corria de uma bica "pré-fabricada", um cheiro caracteristico de mato, terra e não sei mais o que), alí, tomávamos banho, Landy pegava um seixo grande e nos ensinava que deveria esfregar nos péspra deixar lisos, nos vestíamos e enchíamos as latas de água, colocavamos nacabeça - com rodilhas de pano - e subíamos a ladeira, caindo, rindo,voltando, enchendo, caindo e voltando.... rindo como loucos, até chegar em casa de vovó, todos molhados da cabeça aos pés, e enchíamos os potes. A água era filtrada em um pano limpo e tinha um gostoso sabor insubstituível, nos dias de hoje. Pegávamos vermes? De montão. Uma ou duas vezes ao ano, mainha acordava todos de madrugada pra dar o famigerado e odiado remédio "saúde das crianças" ou óleo de rícino mesmo, uma tortura! Algumas de vcs, creio que chegaram a tomar, não? Uma banda de laranja na mão pra assim que terminasse de engolir, chupar pra não vomitar. Intercalava-se, durante o ano, com o não menos terrível óleo de figado de bacalhau "Emulsão Scott" ou algo assim. uma dessas vezes que deveria tomar o maldito óleo de rícinio, era painho que deveria me dar, eume rebelei, me lembro como hoje. Corri, corri e painho atrás de mim com umcinturão pra me bater, me lembro que minha avó me agarrou e me enrolou na saia dela, pra me proteger e painho se danou pq minha avó me viciava demais, gente que pessoinha maravilhosa era minha avó. Pra contradizer o artigo, ela foi uma vítima da incivilização. Morreu de ameba, pode? Uma coisa que hoje, se existe, é uma coisa tão banal, mas naquele tempo a matou.
Sim, continuando, depois das brincadeiras, íamos dormir e, já na cama, me divertia olhando as sombras das pessoas passando de lá e de cá por causa da luz de candeeiros, e nos quartos, as paredes não chegavam até o teto. Eram tempos que parece de ter vivido há muitos séculos, nossa! No entando, se trata de menos de meio séculos, incrivel! E tem mais...

LEIAM PORQUE É INTERESSANTE.

Gente, eu ia pra escola elementar, lembro como se fosse ontem, que coisa incrível! Na escola não tinha banheiro. Pra ir fazer as nossas necessidades, deveríamos pegar uma tabuleta com um cordão amarrado (chamavam de licença, pq a ausência dela queria dizer que tinha alguém já no mato “descarregando”), vc pegava a licença e ia pro quintal, cheio de mato, enquanto um estava lá, nenhum outro podia ir. Por isso, tinha só uma licença. (Que absurdo! E eu vivi isso, incrível!)
Eu timida como era, via a hora de fazer nas calçolas (kikiki- "calçola") com vergonha de levantar e pedir a licença. Todos iam imaginar o que eu iria fazer, já pensou que drama!
E pela minha desgraça, TODAS as vezes que eu ia pro mato, perdia a maldita licença e não tinha santo que me fizesse achar, passava uma eternidade procurando e chorando até que a professora vinha gritando e procurando a licença que, não sei por qual mistério, achava logo. Hoje me pergunto pq diabos perdia, todas as vezes, aquela maldita licença, talvez pelo nervoso e vergonha, mas próprio por isso, não deveria ser mais atenta? Cabeça de criança, mesmo. Deveria ter uns 5-6 anos. Hoje me pergunto, como fazia pra limpar a bunda, não consigo me lembrar. Com folhas? E se pegasse uma de cançanção? Parece período medieval. Sem falar nos castigos que sofríamos nas escolas, de ajoelhar em caroços de milhos a puxão de bochechas e orelhas.Tinha até aquela de “Doutor Bolodório”. Sabem quem era Dr. Bolodório, não? Nando. Sabem que mainha era fanática com a nossa aparência e a gente só ia pra escola nos trinques. Nando com paletó e gravata borboleta, SEMPRE. Qdo a gente aparecia na porta a professora que era uma tirana, gritava com aqueles óculos fundo de garrafa: "Chegou Doutor Bolodório" que era Nando, e falava séria, não brincando. Gente, hoje eu conto essa história por aqui, as pessoas morrem de rir. Como é que se vai pra escola de paletó e gravata, não posso imaginar. Mas mainha era assim, talvez Samantha se lembra. Bem, depois conto outras, muito interessantes, que vcs nem imaginam.

Bjs Holly 9-12-04

From: Tess
Puxa Holly, que coisa boa ouvir tudo isso, parece cenas de livro. É, eu não conheci minha avó, que pena........ não tive uma infância assim, mas com certeza era bem diferente da de Lory. Meu Deus, como o tempo vôa, como avida muda..... será que prá melhor?

BjsTess 9-12-04

From: Ly
Pôxa Holly,
Que legal, que barato. muito porreta.
Ri muito, realmente hoje entendo pq vc é tão equilibrada. Você teve infância, com vó, vô, primos etc.
Eu e Tess não tínhamos primos, só vez em quando na casa de Livia, mas éramos tão diferentes deles, que não sentia a vontade.
Não sabia que vc tinha tido experiências com minha avó. Puxa daria tudo por isso. Lembram que na adoslescência eu chorava pq não tinha avó, tios, primos, etc? Mainha chorava comigo.
Holly, adorei a placa de licença. Realmente vc era uma pentelha. Vc e Nando foram meu carma na terapia. Vcs eram muito crítiticos, nossa!!!
Nós então, eu e Tess, as únicas crianças da família, convivendo com um monte de adultos pentelhos, foi barra. Isso sim que é sobrevivência.
Bjs Ly 9-12-04

From: Samantha
Meninas, à essas lembanças de Holly tb tenho algumas coisas a acrescentar, ainda na época das nossas férias na casa de vovô, uma casa com cheiro forte de fumo e folha de fumo penduradas no teto da varanda. O terreiro, o pé de jaca, o fógão de lenha de vovó e o caminho da bica, íngreme, onde tomávamos banho. Mas nese momento ainda não posso curtir essas lembranças. Tô trabalhando pra caramba no evento de flores - que aliás tá um sucesso total na mídia - e o Forum empresarial. Tá uma loucura. Tô sem tempo nenhum, mihna filha tá jogada às traças.
Tess, cd vc que nem me liga mais?
Bjs Samantha 10-12-04

Nenhum comentário: