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quinta-feira, 3 de abril de 2008

Estilo de vida que hoje (talvez) não existe mais!

From: Holly
Um outro capitulo da minha infância.
Eu e Nelly fomos passar as férias na casa de tia Mary (a irmã de mainha por parte de pai) em uma fazenda enorme, com vacas porcos, cabras, galinhas perús e muitos morcêgos dentro de casa. Sabem que os morcêgos não têm olhos e se guiam pelo som que emitem, tão agudo que nós humanos, não temos a capacidade de percepção. Aquele som, qdo retorna, o morcego sabe que tem um obstáculo e se desvia. Pois bem. Minha tia Mary (mãe de Mariana, lembram-se?) odiava esses morcêgos, pois o cocô deles era uma forma de tinta azul marinho, caia nas roupas e lençóis e manchavam pra sempre. Não sei pq isso me marcou. Essa mancha nos lençóis brancos se associa com alguém que estava muito doente alí, não me lembro quem, talvez meu tio pois tenho pouca lembrança do envolvimento dele conosco, e qdo me vem à mente me dá uma melancolia. Mas o fato é que aprendi muito sobre morcêgos, naquela época. De noite sentia um mix de medo e emoção, por ter que dormir com aqueles animais pendurados no telhado. No fim das contas aprendi a perder o medo e convivia já feliz e contente com eles.
Mas sei que era uma família extraordinária. Adoravam a gente. Me lembro que continuava a pedir a mainha pra deixar um de nós passar as férias lá. Nessa ocasião, fomos eu e Nelly. Gente, como nos divertíamos. Tinha tanta terra, tantas plantas. Muitos trabalhadores tb. Ali aprendi como se faz farinha e muitas vezes minha tia deixava que eu mexesse a farinha com uma colher de pau, enorme como um remo. Era um forno feito de barro enorme. Primeiro lembro que pegavam a mandioca, limpavam, descascavam e deixava varios dias de molho, até exalar aquele cheiro de coisa podre, como puba. depois escorria a água e depois, duas pessoas com um lençol uma em uma ponta e outra na ponta oposta, torciam aquela rede até tirar todo o líquido e ficar bem enxuta. Metiam no forno e mexiam até ficar torradinha. Adorava ver o processo. Outras vezes, era fazer azeite de dendê. Me empanturrava daqueles côcos vermelhos, cozidos. Achava delicioso, me lambuzava toda do óleo. Que coisa fantastica! Acho que hoje nem se fala em comer aquele côco, né? Com a caloria que tem... Pra fazer o azeite, deve primeiro cozinhar e depois extrair o óleo com vários processos (hoje arcáicos, lembro que eram instrumentos rudimentares feitos de madeira. Depois de cozido se podia comer, mastigar toda aquela palha, chupar o líquido e cuspir fora a palha e o caroço. Que bomba não deveria ser! Sim, me lembro que eu e Nelly, de dia brincávamos com os animais, corríamos fazendo pega-pega, e em um desses pegas, Nelly pegou feio. Tinha uma janela na sala bem baixa que dava pra o quintal, só que o terreno da parte de fora era bem mais baixo que o nível de dentro. Eu saltei com minhas longas pernas e Nelly veio atrás, mas como as pernas dele eram curtas, tropeçou no bordo da janela e caiu do outro lado, se ralou todo, acho que até hoje tem uma cicatriz em baixo das costelas, onde a ferida foi bem mais feia. Ele se lembra disso. Minha tia ficou numa preocupaçao, lembro do borburinho que fizeram, acho que com medo que mainha soubesse, sabendo como mainha era preocupada com os filhos. Me passaram um sabão danado. Qdo a tarde caia e começava a escurecer, gente que tristeza baixava na gente. Eu e Nelly confabulávamos, todas as noites, chorando escondidos com saudades de casa, mas de manhã era tudo diferente. Nesse periodo – vejam essa - me lembro que lá em casa estavam preparando uma grande festa, algo de extraordinário, pois antes de partir, lembro da folia dos membros da família e empregados, com os preparativos para o evento. Acho até que foi por isso que nos despacharam à casa de minha tia, pra terem mais tempo. Mainha num corre-corre, costurando um vestido maravilhoso pra Fanny, cor de rosa (lembro como hoje), cheio de babados e bicos, Dety (a nossa babà) que ia e vinha fazendo compras pra os preparativos da festa etc. Fiquei com uma pulga atrás da orelha. Era feliz porque iria passar as férias fora mas, ao mesmo tempo, gostaria de participar daquele GRANDE evento. Qual seria o motivo de tão grandioso evento? Direi agora o motivo da festa: A formatura de Fanny. Em que? Poderão me perguntar. Em ARTE CULINÁRIA. Gente, que coisa, viu! Lembro que até anel (de baleiro obviamente) foi preciso pra a "colação de gráu". Só que eu e Nelly, pobrezinhos de nós, estavamos longe, mas eu sabia o dia do acontecimento. Aí, comecei fazer inferninho pra pirraçar Nelly e deixar ele bem triste, bem mais triste do que eu. Como eu era pirracenta, meninas. Na véspera do tal acontecimento, sempre de noite, qdo a tristeza batia, comecei a inventar histórias pra Nelly ficar com raivinha, dizia que painho tinha comprado bolas gigantes de assoprar, e que um carro poderia passar por cima que não pocava, já pensou? E que todas as crianças iriam se divertir na festa, brincando com essas bolas e que Nando ia receber uma bicicleta lindíssima, e só nós não iríamos receber nadinha porque estavamos longe e por aí vai. (Acho que parecia um pouco com Lory, viu Tess) Lembro que, qto mais eu contava, mas Nelly choramingava, e eu futucava, e inventava até Nelly cair nos berros. Isso tudo, na minha mente de criança, achava que poderia contribuir pra que nos levássem embora logo, pra chegar em tempo pra festa. Senti uma inveja de Fanny! Achava que meus pais faziam isso tudo por ela porque ela era a mais importante. Qdo cheguei, olhava Fanny com uma certa admiração invejosa. Pensava: "por causa dela separaram a gente, mandando pra longe como se não nos dessem nenhuma importância, coisas de criança.
Mãe Primorosa 2
Sabe que mainha comemorava nosso aniversáario, todos os anos, né? Nesse dia, era já uma tradição, a aniversariante deveria se vestir toda de novo. Em um ano, daqueles, deveria fazer 7 ou 8 anos, me lembro que painho comprou uma bicicleta pra mim e Nando irmos pra escola, pq estudavamos longe e teriamos que ir a pé e seriam mais ou menos uns 5 km, vejam que coisa, só sei que essa bicicleta estava pra chegar em um trem, toda embalada. Chegou e comecei a aprender. No dia do meu aniversário, mainha me vestiu toda de novo, me lembro que era um vestido vermelho de flrozinhas, com saia volante. Me aprontou toda, me botou em cima da bicicleta, pq en não sabia sair sozinha, alguém me dava o impluso e eu girava e só parava em casa. E lá vou eu, toda orgulhosa no meu vestido novo, dia do meu aniversário, me exibindo toda, qdo chegou em uma rua estreita que teria de fazer a curva pra voltar, e aí, cadêe a nêga? Nada feito, caí, me ralei toda e voltei pra casa empurrando a bicicleta e chorando, esperando já a bronca. Mas sabe que até hoje eu faço esse ritual? Todo meu aniversário, tenho que vestir algo de novo, mesmo que passe em casa. Mainha era assim, às vezes muito contraditória. Parecia que nos adorava e ao mesmo tempo fazia coisas abomináveis. talvez pra minha pequena mente, às vezes a achava uma tirana. (em outra carta explico o pq dessas contradições)
Memória inoxidável
Um dia eu aprontei alguma, não me lembro bem o que, pois deveria ter uns 3 anos, mas me recordo bem. Sei que mainha e Dety brigaram muito comigo e eu chorei e tudo, não me lembro se me bateram. Só sei que me meti debaixo da cama e passei horas. Lembro perfeitamente (que memória!) que alí debaixo, eu comecei a matutar em viver ali pra sempre. Aì me perguntava "e o que vou comer?" vi aquelas bolinhas de la que se formam debaixo da cama, e pensei, posso comer essas coisas aqui (criança é doida mesmo) a um certo ponto, via os pés delas passarem aqui e ali me procurando, e eu quieta. Na minha mente, pensava que elas não sabiam onde me encontrava, pois elas passavam e diziam: cade Holly, gente, onde se meteu? (fingindo preocupação, como fazemos com as nossas crianças) é uma pena pois aqui tem uma coisa que ela gosta tanto, vamos comer tia Alice? (dizia Dety, pois chamava mainha de tia) eu saí me arrastando devargazinho pra fazer de conta que não tava nem aí e me aproximei da cozinha, pra ver o que era. Gente, vi uma coisa que me feriu à morte na época, olhem, criança é coisa seria, viu? Vejam como tratar com elas. Vi quando Dety olhou pra mainha e fez um gesto e piscaram o olho, como pra dizer viu aí que funcionou, ela tá chegando, e deram aquele sorrisinho no canto da boca, meninas, aquilo pra mim foi de uma traição tão grande, tanto é verdade que ficou na minha memória até hoje, uma confirmação de que deixou marcas em mim. Me baixou uma humilhação tão grande, me lembro que corri pra trás da porta chorando e pedi a Jesus pra mainha morrer, é mole, negas? Deveria ser bem pequena mesmo, pq, naquele mesmo período, sofri uma outra humilhação quadruplicada ainda, vejam como as crianças absorvem muita coisa naquela idade, qdo pensamos que elas não entendem nada. Me lembro que mainha um dia estava super atarefada e tinha acabado de me dar banho, aí me colocou em cima da mesa e chamou painho pra me passar talco, meninas, que vergonha que senti, qdo painho me passou talco na xereca, com uma ponça naquele momento senti tanta humilhação, agora eu pergunto, porque? Talvez seria pq não estava habituada em que meu pai me visse nua ou pq, por ser muito pequena, só naquele momento estava começando a despertar em mim aqueles sentimentos??? Pra isso acontecer, eu devia ser mesmo muito pequena, né? Agora me digam, àquela idade, como é que eu jà tinha vergonha da nudez, e de que meu pai mi visse nua? Não consigo excplicar. A vcs mães, a palavra. Bjs Holly 10-12-04

From: Tess
Meninas, ( Samantha), eu te ligo todos os dias, mas sua casa e uma delegacia de polícia, sempre ocupada e seu celular sempre na caixa. Precisamos de vc para fazer um texto pra Jô Soares e não te achei, ele já sabe da Banda e quer que eles sejam um dos primeiros entrevistados de 2005. Eu e Ly estamos doidinhas preparando o material que pediram. Hoje eles viajaram para Brasilia e só retornam segunda feira, estou eu e minha Bimba em casa, mas estamos duras, não tenho grana nem para gasolina, pois tudo que tinhamos, Petter levou para viagem, por isso, se quiser me levar para comer carangueijo tem que pagar o meu.
O email de Holly foi 10, devia passar para Nando ele ia amar....aliás quem tem o email dele?
Petter vai ficar com Dacki sábado e Domingo, e o bestão não sabe se vai poder assistir o show da banda é mole?
Bjs,Tess 10-12-04

From: Ly
Tess, acho que somos os patinhos feios. Não tivemos vó, nem essa infância familiar.
Em compensação fomos educadas por tantas mães e pais, não é???
Acho que morro de inveja (tem inveja boa????) de tudo isso, gostaria muito de ter vivido tudo isso, principalmente ter conhecido minha vó. Como ela era fisicamente? Como era a vivência com meu avô? Eles eram carinhosos? E mainha como era com ela?
Agora Holly, quero saber tudo, viu?
Samantha, nunca mais nos falamos, como vc tá?
Gente, ontem dia 09/12, foi a "formatura" de Falcon. Foi tão lindo, tão emocionante, detalhe, também não tive formatura de segundo gráu, vcs tiveram????, Não respondam assim vou ficar complexada. Tirei todas as fotos que tinha direito, no começo, só eu tava lá, senti um aperto no coração, pois a impressão que eu tinha era que todos os pais e mães estavam lá. Eles se sentiam tão importantes, pareciam que estavam colando o 3º grau.
Falcon tava muito excitado, depois chegou Tchole e foi melhor ainda.
O filho da mãe do pai deles, fiz uma relação de todos os dias de vestiibular, liguei pra ele, pedi pra ligar pra Falcon, dá uma força,etc, etc - mais um detalhe ele não tá fazendo mais nada, cortou o dinheiro que mandava pra os meninos, tem 1 ano que não paga nem a escola, nem a faculdade, cortou a assistência médica - o filho da mãe, não fez uma ligaçaozinha, pode?? Resolvi esqueçer que esta criatura existe e proibi os dois de ligarem pra ele. Não quero saber, vou ligar pra falar da separação e entregar ele na mão do DEUS VIVO.
Bem, o fato é que meu filho tava tão feliz, tão querido por todos, foi lindo, gente. Me senti tão orgulhosa, imagine quando Tchole se formar ano que vem, preparem-se, quero todas, entendeu bem, todas aqui. Preparem-se, é muito importante pra mim, tudo isto.
Nossa acho que a febre de Holly e Samantha tá me pegando, tô escrevendo pra caramba.
Bjs Ly 10-12-04

From: Tess
Holly, estou ADORANDO seus e-mails, gente, vcs mais velhos lá de casa tiveram uma infância mais rica que eu e Ly, pegamos as vacas magérrimas. Eu nunca tive bicicleta, nem me lembro de um único aniversário. Ai, que saudades de minha mãe....... Acredite holly, pode contar mais e mais que isso me serve inclusive de referência para Lory, aquela coisa que vc me falou em um e-mail anterior, que painho contratou um maestro da acordeon pra te ensinar, mas vc só fazia pra agradar a ele e que hoje nao te serviu pra nada, lembra? Isso me deixou com um sentimento de culpa, pois eu sempre exigi muito do piano de Lory, depois disso, vi que não era por aí, e saber coisas de mainha é simplismente maravilhoso. Conte mais, conte mais....
Tess 10-12-04
P.S. Entrem no site da Banda GV amanhã, vcs terão uma surpresa.

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