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quinta-feira, 3 de abril de 2008

Contradições de uma mãe

From: Holly
Ly, ri tanto com sua carta, por que? Pq parei em uma frase (antes de ler o resto da carta) tentando descobrir quem era o indivíduo misterioso ao qual vc se referia, o filho da mãe do pai deles, meu Deus, - dizia - mas quem é essa figura complexa? o filho da mãe é um; a mãe do pai, é outro; o pai deles, outro, então, primeiro tenho que descobrir quem são eles, pra saber quem é o pai, ponto paragrafo. Daí então, tenho que descobrir que esse "pai" tem uma "mãe", a qual tem o tal filho em questão... Que quebra-cabeça é esse? Porca miséria! Só depois de quase enloquecer, resolvi ler o resto da carta e tive a confirmação de que o indivíduo existia e era o pai dos meninos. Nossa!!!
Bem, nossa avó Ly, parecia uma índia. Bem morena cabelos lisos magrinha e pequenininha. Acho que era envelhecida demais pra idade dela, que deve ter morrido acho que entre 46-48 anos, Ly deve ter nascido um ano ou dois depois da morte dela, mas lembro que o rosto dela era todo enrugado mesmo. Me lembro muito bem do período em que ela adoeceu e qdo morreu, cheia de feridas. Ficou marcado na minha mente pra sempre a imagem da saída do seu enterro, eu estava naquele terreiro grande e olhava aquela multidão de gente que se afastava, naquele caminho estreito, levando pra sempre a minha pérola preciosa, cantavam aquele hino de morte, da harpa cristã, ...quando eu estiver, morando lá... (não me lembro do resto), lembro que senti uma dor tão profunda, uma tristeza gente, que parecia que estava corroendo todo meu interior, acho que foi a primeira vez que vi alguém da familia morrer. Lembro que mainha e tia Ely, sofreram tanto, mainha chorou por muitos e muitos dias. Naquele tempo, qdo a mãe morria, (até parece que sou uma velha gagá, contando histórias pra os netos e bisnetos, peraê, né?), os filhos deveriam vestir preto por um ano, como luto fechado e os netos (ou filhos ainda crianças)poderiam vestir preto-branco por 6 meses. Me lembro que todos nossos vestidos (feitos pra o luto) eram preto com florzinhas brancas ou bolinhas brancas. Todas as outras roupas foram fechadas nas gavetas. Lembro que odiei esse período pq tinha um vestido amarelo com a barra toda bordada (igual a Fanny) que eu adorava mas não podia vestir. Qdo venceu o período do luto, foi a coisa mais maravilhosa, como se tivesse comprado um guarda-roupa todo novo, vejam que tradição naquela época. Qto ao relacionamento dela com meu avô, eu era muito pequena pra prestar atenção a essas coisas, mas não me lembro de ter presenciado nenhuma discussão entre eles, ou ela era do tipo submissa ou eram muito discretos. Sei que mainha adorava ela de uma forma obsessiva, pois da forma que sofreu, deveria ter um vínculo muito forte, lembro que por muitos meses as pessoas vinham tentar consolá-la. Creio que pra ela foi uma perda muito dolorosa.
Qto a formatura de segundo gráu, Ly, pra ser sincera nem me lembro do evento, aliás, nunca dei muito valor a esse ritual e nem gostava de participar às dos outros. Tive duas formaturas superior e não comemorei nem mesmo uma, imaginem de seg. grau, a única formatura que de grau mesmo devia ser zero, foi aquela de Fanny que contei na carta anterior, em "Arte Culinária", aliàs, minto, não foi arte culinaria mas (pasmem) de datilografia, com chapéu quadrado e anel de baleiro e tudo, acho que ela ainda tem a foto, pode?
É estranho, Tess que vc não teve comemoração de aniversários. Que me lembre, mainha não deixava passar em branco, fazia tortas e festinhas, talvez com vc foram só os primeiros anos, qdo vc era ainda bem pequena. Mas pra mainha era uma tradição mesmo. E eu adotei isso por todos os meus aniversários.
Mãe primorosa 1
Ela tinha a mania de todas as tardes, depois que tomávamos banho, vestia todos impecavelmente, cheio de laçarotes de fitas, meias e sapatinhos tipo balé, e colocavam todos sentados na frente da casa, cada um em uma cadeira, com uma banda de pão com manteiga na mão, como merenda. Gente, o que é que é isso! Qtas lembranças lindas me vêem em mente, realmente tivemos uma infância como manda o figurino, acho que a fase melhor foi de Fanny até Margie, e Samantha pegou um pouco tb. Sei que aquela banda de pão que cada um tinha na mão era como um prêmio, e esperávamos com ansiedade aquele momento. Aí, todos sentados com sua banda de pão na mão, ficávamos fazendo uma competição danada pra ver quem demorava mais pra comer. Qdo a fome era tanta, eu comia logo e não queria nem saber, mas logo que o meu terminava e via todos os outros com seu pão íntegro, ficava me mordendo de inveja, e começava a pirraçar, gritava "mainha venha ver, Nando está pitiscando pra o pão não acabar" (mainha não gostava que a gente passasse muito tempo com coisas na mão, pra não se sujar). Todos os vizinhos elogiavam o modo que mainha vestia os filhos, era famosa.
Como eu falei, mainha era muito contraditória. Não sei se vcs lembram, mas eu fiz xixi na cama até os 12 anos (mais ou menos) e minhas histórias sobre isso eram famosas, pois todos comentaram sobre isso e gozaram com minha cara por muitos anos, pq qdo não fazia na cama, me levantava dormindo e urinava dentro dos sapatos e em cima das malas que ficavam em baixo da cama, mas nunca dentro do pinico.(??) (Usávamos o pinico, ou bacio, ou vaso, como chamavam, pra fazer xixi de noite, pois o banheiro ficava fora da casa, no quintal, pode?) De manhã qdo os meninos metia os pés no sapato pra ir pra escola, encontravam a bela surpresa. Então, acontecia que apanhava muito por isso e, não sei porque, esse fato deixou uma ferida na minha psique muito forte. Ainda hoje qdo me lembro me aflora uma grande mágoa e meus olhos se enchem de lágrimas. Será pq, inconscientemente, sabia que era uma doença, um distúrbio (hoje sabemos que é isso mesmo, um distúrbio na criança que pode acontecer por causa de algum trauma na infância ou outros fatores) e mainha nao se importava (hoje sei que era por ignorância). O fato é que todas as vezes que acordava molhada, (e isso era quase todos os dias) as pernas começavam a tremer pq sabia que o cacau tava pra cair em cima de mim. Mainha pegava os lençóis e esfregava na minha cara, mas com toda a fúria mesmo, meu rosto ficava vermelho e muitas vezes me arranhava mesmo. Depois que exauriva as suas forças e a raiva, me fazia lavar os lençóis. Eu sendo já pré-adolescente, essas coisas me humilhavam à morte. Acho que a minha timidez (que era quase uma doença crônica) começou daí. Achava uma injustiça. Qdo era menor era uma criança vivaz muito sapeca e engenhosa. Lembram-se das minhas travessuras pra escapar de apanhar, não? Qdo fazia uma travessura, corria pra o sol pra mainha pensar que eu estava com febre e não me bater, o que acontecia pontualmente. Qdo eu e Nando fizemos alguma coisa grave, e mainha pegou primeiro Nando pra bater (pegavam primeiro os maiores) e enquanto Nando estava apanhando (isso não me lembro, mainha e tia Ely que contavam) disse que sai de joelhos com uma biblia de cabeça pra baixo (pois ainda não sabia ler) correndo (de joelhos) atràs de mainha e gritando, "eu canto um hino, mainha, eu canto um hino (na biblia). Mainha disse que qdo viu aquele quadro, começou a rir e em vez de me bater me agarrou no colo.
Criança estrategista
Me lembro que mainha comprou uma sombrinha pra mim e Fanny. Eu levava pra escola de manhã e Fanny levava de tarde. Um dia, qdo me sentei na carteira, - aquelas antigas que se sentavam em dois e tinha na frente uma gaveta pra colocar os livros - peguei a sombrinha e coloquei em pé debaixo da carteira (nao sei pq queria equilibrar a sombrinha em pé debaixo da carteira) sò que a sombrinha era levemente mais alta e eu forcei a entrada dela debaixo da carteira e o cabo quebrou. Gente, sabem o que representava isso pra nosso couro, né? Vejam a minha engenhosidade pra dispistar, pensando na minha mente infantil, que os adultos eram bestas: cheguei em casa, segurando o cabo agarrado à sombrinha pra disfarçar e corrir pra o quarto; pendurei o cabo na trave do guarda-roupa (onde se penduram os cabides) e botei a sombrinha caida dentro, pra dizer que botei a sombrinha inteira e quebrou sozinha. Como é que pode! Qdo Fanny foi pegar, eu corri na frente, Fanny viu o cabo sozinho e a sombrinha deitada e foi logo me acusando e eu, prontamente, "foi vc que quebrou, viu" foi vc que quebrou". Fanny foi logo falando com mainha que eu tinha quebrado a sombrinha, e eu bati pé firme que a sombrinha tava inteira que quebrou sozinha, ou entao foi Fanny que pegou de mau jeito e quebrou, é possivel, uma criança assim? Pois eu era. Tem muito mais, devagarzinho conto as minhas memórias.
Timidez e namorico de infância
Minha timidez deve ter sido talves, fruto desse episódio (o de urinar na cama). Me lembro que até pra entrar na faculdade, gente, foram Nando e painho me matricular porque eu não tinha coragem. Vcs acreditam que eu namorei 10 anos com Albert e nunca tive coragem de pronunciar o nome dele na frente dele, nem chamar pelo nome, nem manter uma conversa por mais de 2 minutos? Como é que ele me suportou, não me perguntem. Se ele me falasse eu respondia, sim, não, talvez. Até que um dia tive coragem de escrever a ele e terminar tudo. E eu gostava dele no início. Lembro que qdo viajávamos naqueles "pau-de-arara-" gente, isso era verdade mesmo???? Eram aqueles caminhões com aquelas tàbuas distribuidas em cima, pra servir de banco, coberto de lona, se fosse pra longe. Se partia, à destinação, cheio de gente, a cantar, "correrão sem se cançar" e ensaiar coral pra fazer bela figura etc. Velhos e jóvens, sem distinção, como é que pode um negócio desses! Era uma emoção incontrolável, qdo ia sair uma "caravana" . Na noite anterior, não conseguia dormir da emoção. Como era gostoso, surreal hoje, ao limite da ingenuidade mas tão satisfatório na época!!! Aí, em uma dessas viagens, a gente se paquerava, ele sentado atrás de mim, de vez em qdo, me dizia alguma coisa che me enchia o coração. Na volta viemos sentados juntos, pois era tudo escuro, né? (olha que eu tinha só 10 anos e 10 anos naquela época, eram 10 anos mesmo). Ele pegou na minha mão e uma descarga elétrica me percorreu todo o corpo, lembro como hoje. Fiquei numa felicidade, pq antes eu tinha dúvidas se ele queria a mim ou a outra amiguinha minha, que eu achava mais bonitinha pq tinha os cabelos lisos, já viu, né? A um certo ponto, vi a mão dele relaxar e ouvi nada mais que um belo ronco. Albert estava dormindo, gente. Aquilo pra mim foi uma decepção imensurável. Pensei: (vejam que mentalidade que já tinha) se ele dormiu é pq não gosta de mim, pois como é que se consegue dormir pegada na mão de quem se ama? Se gostasse de mim estaria tão emocionado como eu estou, já pensou, gente? A gente se namorou até os 20 anos, mas isso nunca saiu do meu coração, como se tivesse sempre uma grande dúvida entre nós. Só que depois ele se apegou demais a mim e eu perdi o interesse.
Aguardem o próximo capítulo.
Bay Holly 11-12-04

From: Ly
É nêga, vc tem história, viu????
Que negócio é este de irmã de mainha por parte de pai???? Não entendi nada.
Holly tive um aniversário parecido, foi o último aniversário comemorado, tinha 11 anos, lembro do vestido vermelho, que depois toda a igreja copiou, não ganhei uma bicicleta, mas andei na de Nelly, pelo círculo que tinha nela, lembro que não dava pra pedalar totalmente, mas não cai.
Gente, não lembro de nada até uns sete anos.
Formatura de ARTE CULINÁRIA, pode??? morri de rir, sem poder.
Ly, 11/12/04

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